"Na beira de uma estrada distante, um dia, raízes quebraram a casca de uma semente, envolveram a terra com seus bracinhos, cresceram, e cresceram, e deram vida a uma árvore grandiosa.
E a árvore vivia. Se alimentava, respirava, e por mais que suas folhas todas caíssem e ela parecesse meio doente às vezes, ela sempre voltava a florescer. Novas folhas brotavam, mais verdes do que nunca, e ela renascia. A vida - e a seiva - continuava a fluir dentro da árvore.
Aquela, porém, era uma árvore diferente de todas as outras. Ao invés de dar frutos, ela dava pipoca. Ao invés de botões, piruás. E quando os piruás estouravam: pipoca. Pipoca caramelada, cor-de-rosa (que eventualmente levava as pessoas a fazerem xixi rosa por três dias), com manteiga, com molho de mostarda, original, e muitas outras pipocas advindas da sabedoria da natureza, que não existiam em nenhum outro lugar a não ser ali, na beira da estrada.
Quando o outono chegava todas as pipocas caíam, uma a uma, e forravam o chão com tapete colorido e crocante.
Por um tempo, ninguém soube que aquela árvore existia. E ali ela permaneceu, sozinha; nascia, morria, nascia novamente, sem ninguém para apreciar o milagre que ela era.
Um dia, então, um garoto meio cabeludo caminhava exatamente por aquela estrada e viu a árvore de pipocas. Havia muitas coisas que ele poderia ter pensado naquele momento, como por exemplo: "o mundo precisa saber sobre essa árvore!". Contar para a humanidade seria justo. Mas ao invés disso, ele continuou voltando secretamente dia após dia para saborear as mais raras e deliciosas pipocas que alguém jamais poderia sonhar. Ele se apaixonou pela árvore, e fez tudo o que pôde para protegê-la. Mas mais do que isso, ele admirou o que aquela árvore peculiar significava, e compreendeu que devia de fato contar para outras pessoas, para que elas também pudessem reconhecer o valor da árvore.
Ele contou, e muitas pessoas puderam degustar vários tipos diferentes de pipoca, sentar sob a sombra fresca e respirar o ar puro que aquela árvore proporcionava.
O tempo passou, estações passaram, a Terra girou muitas vezes, dia e noite revezaram muitas vezes, até que entre todos esses fenômenos, e árvore desapareceu. Tantas pessoas a conheceram e reconheceram sua magnitude, e ela esteve lá por tanto tempo... Mais tempo do que a vida de muitas dessas pessoas... E essa é a coisa engraçada sobre toda essa história: que a surpresa não era o fato de a árvore não estar mais lá, a coisa curiosa, e bela, e surpreendente, era que um dia ela estivera! Não era estranho que a árvore morresse um dia, porque esse é curso da vida. Era estranho que um dia ela tivesse existido. Esse era o verdadeiro milagre."
- Ok, acabou a história. Agora você pode dormir.
- Qual é! Uma árvore que dava pipocas?
- É!
- Por quê uma árvore que dava pipocas?
- Porque você gosta de árvores, e você gosta de pipoca...
- Mas ela morre no final...
- Mas ela dava pipocas!
- É, tem razão... Isso é uma das melhores coisas que podem acontecer...
E então ela fechou os olhos, pegou no sono, e sonhou com vários fenômenos naturais envolvendo pipoca: chuva de pipoca, mar de pipoca, tempestade de pipoca, anjinho na neve, mas ao invés de neve: pipoca.