30 de agosto de 2014

Para onde vão as nuvens?


Era uma vez uma menina que queria se juntar de alguma forma à cor do céu. Aquele céu, aquela imensidão azul era tudo o que ela conhecia. Ela sabia que jamais poderia tocá-lo, nem provar as nuvens, mas só de olhar já sentia o gosto doce na boca. Para ela o céu era como um painel pintado, ou o mar, ou o Rio de Janeiro que continua lindo. Todas coisas em que ela nunca havia tocado. Todas coisas que ela nem podia afirmar existirem, pois nunca as vira de verdade. Por mais que ela soubesse existir todo um Universo lá fora, eram coisas que ela supunha que jamais veria. Para ela, todo o mundo, tudo o que existia, eram os livros, as flores, e as pessoas da sua família. As coisas que já tinha tocado, provado, sentido.  Ali, deitada, imaginava como seria o toque de uma nuvem, o cheiro, se o sabor seria tão doce quanto imaginava. Quando olhava bastante, quase podia sentir. Naquele dia específico, havia uma nuvem enorme no céu. A menina se derreteu em uma poça de silêncio enquanto criava rostos de monstros nas nuvens. Contou um, dois, quatro, sete monstros. Todos formando um outro monstro maior. Via olhos, bocas, braços e dentes por todo lado. Mas essa era uma tarefa um tanto quanto estranha porque assim que acabava de formar um monstro, ele sumia e dava forma a um outro diferente. E ela ficou lá, tentando olhar com muita força para ver se assim conseguia prender os monstros do jeito que estavam. Por fim desistiu e ficou apenas observando os pedaços de nuvens se dissipando no ar. Se você já viu uma explosão contida, sabe como elas fazem isso. Se nunca viu, pense em uma explosão acontecendo ao contrário. Se você nunca parou para olhar, é preciso explicar que as nuvens se dissipam de fora para dentro em adjetivos como contrair, palavras inventadas como deseclodir, e afins. Falando assim, parece demorado, mas não é; num segundo elas estão lá, no outro se encolheram até desaparecer. De qualquer modo, a menina já se sentia aflita de tão rápido que elas sumiam. Algum tipo de força guardada dentro dela se manifestava, tentando de alguma forma convencer as nuvens a continuarem paradas ali, uma ânsia implícita de guardar ou ao menos prolongar aquele momento um pouco mais... De repente começou a se perguntar para onde as nuvens iam quando sumiam. Será que elas eram sugadas para o outro lado do mundo?  Será que essas eram as nuvens do outro lado do mundo que foram sugadas para cá e precisavam voltar para casa? Será que elas se dividiam em minúsculas partículas e viajavam sem rumo?
Num impulso a menina saiu correndo para dentro de casa para apanhar papel e lápis para desenhar um último monstro, mas quando voltou já não havia mais nuvem alguma. O céu estava tão azul quanto uma folha de papel azul. Tão azul quanto um céu azul sem nuvens. 
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