24 de maio de 2015

Conversa Sobre Livros: Edição Especial de Circo

Olá, amigos! Não é segredo pra ninguém que nós amamos circo, e é por isso que vamos inaugurar a coluna "Conversa Sobre Livros" com uma edição especial falando sobre o tema *-* 
Mas antes de começarmos, peço que vocês leiam a apresentação da dinâmica da coluna em "Como Isso Funciona", logo abaixo do cabeçalho do blog; lá nós falamos sobre o objetivo principal da coluna, seu funcionamento, e tal e coisa :) 
Nós vivemos procurando por livros sobre circo, e até hoje encontramos quatro sobre os quais falaremos hoje. 


4. Água Para Elefantes


Com certeza o mais literal de todos. Porque quando se pensa em circo o mágico e o lúdico sempre vêm junto. Mas não neste livro. Primeiramente porque o circo de Água Para Elefantes era um lugar para quem não tinha um outro lugar. Um livro que nos ajuda a enxergar para além do fantástico do espetáculo: para a vida dura de trabalho no circo, a falta de dinheiro e uma vida entregue a Deus-dará. O que eu mais gosto nesse livro não é o romance entre Jacob Jakonwski e Marlena, eu gosto mesmo é da elefante! 

Na verdade, eu considero Água Para Elefantes como uma versão alternativa para a história de Topsy, a elefante de circo que comia cigarros acesos e que foi eletrocultada por Thomas Edison em 1903 originando seu filme Eletrocultando um Elefante; no livro, a elefante se comporta mal porque não entende o idioma em que está sendo treinada, o que poderia ser uma explicação da autora para o mal comportamento de Topsy na vida real... 


3. O Circo do Doutor Lao (As Sete Faces do Doutor Lao)


Um pulo da literalidade para a fantasia total! O Circo do Doutor Lao (também chamado As Sete Faces do Doutor Lao em algumas versões) traz seres fantásticos capturados na China (pelo Doutor Lao), dentre eles uma esfinge, um fauno, um unicórnio, uma medusa, um contemporâneo de Jesus Cristo, uma sereia, bruxas, demônios, cobras, um asno de ouro e muitas, muitas outras! No fim do livro há um guia de 21 páginas citando e descrevendo todos os personagens. E, confesso, nunca vi tantos personagens em um livro de 155 páginas! É uma leitura rápida e muito gostosa que nos apresenta em uma linguagem extremamente irônica e poética o universo desses seres: como vivem, como se sentem, em que pensam... Gosto particularmente do diálogo entre o repórter e a cobra, na página 114. Não vou reproduzir o diálogo por ser muito extenso, mas o livro como um todo é uma viagem com caráter onírico repleta de figuras mitológicas que contrastam com as pessoas pacatas e comuns da cidade de Abalone. 



2. O Circo Mecânico Tresaulti


Há algumas razões para que eu goste particularmente desse livro. Uma delas, é que ele passeia pelo ponto de vista de quem trabalha no circo e de quem assiste o espetáculo. Há um indício narrativo que prova isso: cada hora o livro é narrado em uma pessoa diferente. Alguns capítulos são narrados em primeira pessoa, outros em segunda, e outros ainda em terceira pessoa, de forma que podemos por um instante ser artista, espectador, e narrador. Podemos compreender a realidade do circo sob todos os pontos de vista possíveis e imagináveis! Em segundo lugar, há beleza na tragédia. Apesar dos personagens serem próximos de zumbis, mortos-vivos, ou coisa do gênero, a autora tem uma forma encantadora de falar sobre eles. E em terceiro lugar a abordagem do amor. Podemos reconhecer ali várias formas de amor... O circo é uma família! Toda família tem desentendimentos, toda família tem momentos ruins, mas o que caracteriza uma família é justamente essa união que não pode ser desfeita mesmo em meio às adversidades! E depois tem o amor de Stenos e Bird, que é um amor-ódio, que anda pelas duas coisas... Os dois se estranham, se esganam, se machucam, mas quando Bird quase morre (e isso acontece duas vezes) é Stenos quem está lá para socorrê-la custe o que custar! 

O livro é como um grande conto em que o pré-requisito para qualquer leitor é saber ler as entrelinhas...


1. O Circo da Noite




Um livro mágico. Simplesmente mágico. O meu favorito de todos os que falamos hoje. Não foi considerado uma grande aposta pela crítica por não ser um desses romances água com açúcar chatos que estão bombando hoje em dia. Ao contrário, os personagens principais quase não se encontram. E é essa a mágica... A demonstração de amor sutil dos dois, a densidade dos ambientes retratados no livro, a visualidade que a autora nos permite imaginar, que se tornou uma grande referência para mim, e o mistério. A espera. É justamente a lentidão e a incoerência da narrativa (os capítulos não estão organizados em ordem cronológica) que mais me encantam. 

E também tem a questão do elo. Há uma parte em que Marco fala sobre o elo que lhe une à Celia; quando li, eu nem considerei uma parte tão importante assim, porque de fato não existem frases de efeito e cenas impactantes no livro, mas depois de um certo tempo eu ponderei sobre a complexidade do que ele queria dizer... Celia e Marco foram unidos por uma mágica (um elo) quando eram crianças e foram treinados a vida toda por antigos mágicos rivais para se enfrentaram até a morte de um deles que ocasionaria a vitória do outro (importante lembrar que até mais ou menos a metade do livro eles nem sabiam contra quem estavam competindo). 
A beleza está no fato de que o amor deles nasce da rivalidade, e no fato de que a linha entre amor e ódio é muito tênue, e talvez até inexistente... Acho muito bonito um elo para a morte se converter em um elo de amor...
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