23 de maio de 2015

O Poeta e a Poesia

Se algum dia te disserem que não se pode viver de amor, duvide. 
Uma vez, em um tempo perdido que poderia ser tanto passado quanto futuro, existiu um garoto. Esse garoto tinha uma bicicleta. Existia também nesse mesmo tempo uma garota - tão fresca quanto a brisa da manhã, e tão bonita quanto um raio de sol - por quem ele era apaixonado. Os dois eram jovens e deles era o mundo. 
Saíram de bicicleta para procurar o mar que nunca tinham visto. A garota disse "tenho um presente para você!"; ela vestia nesse dia um lindo vestido branco. Não um vestido branco qualquer, mas O Vestido Branco. O Vestido Branco mais bonito que alguém poderia ver. Perfeitamente ajustado nas curvas de seu corpo. Leve como uma pétala de flor flutuando ao vento. 
O garoto olhava para ela e só conseguia pensar que ela tinha cara de poesia. 
Como nenhum dos dois houvesse visto o mar, quando chegaram ficaram vários minutos olhando, ela com a cabeça encostada no ombro dele chorando e ele sentindo as cócegas que o cabelo dela fazia e pensando que aquele poderia ser o momento mais sereno de todos os tempos. 
Depois de ver o pôr-do-sol, se esconderam em uma caverna próxima onde ela lhe entregaria o presente. A menina tirou não sei de onde uma caixinha e entregou a ele: "é um presente do meu avô, que ganhou do avô dele; mas nenhum de nós nunca usou, só pode ser usado por alguém muito especial e eu tenho certeza de que esse alguém é você!". 
O garoto abriu a caixa e encontrou uma caneta. Por alguma razão que o garoto desconhecia e nem eu hoje sei, naquele momento ele soube exatamente o que fazer. Começou a rabiscar o vestido da garota. Rabiscou, rabiscou, rabiscou. Se sujou de tinta e sujou também sua amada. Fez com o que seu vestido branco ganhasse vida enchendo-o de lindos desenhos do mar e do mundo... 
A garota olhou para ele e a única coisa em que conseguiu pensar era que ele era o poeta que a compunha. 
Os desenhos do vestido dela criaram vida. Lindas borboletas saíram voando, flores de todas as cores pularam de seu vestido formando um grande jardim dentro da caverna. Do vestido saíram animais, amantes, luas e sóis e toda espécie de coisas feias, belas, raras e comuns. Por fim do vestido saiu o mar. Ondas, conchas e corais. Peixes, surfistas, cachalotes e até o horizonte. O garoto se misturou ao azul do mar e garota ao branco da espuma do mar quando toca a areia da praia. Ambos se misturaram e se embolaram até que já não houvesse como saber mais quem era quem. 
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