15 de junho de 2015

Conversa sobre Livros: A Menina Submersa


A menina submersa, de Caitlín R. Kiernan, e publicado pela editora Dark Side (que está se tornando uma das minhas favoritas) é um livro marcante porque nos faz pensar sobre quantas pequenas histórias (e fantasmas) nos compõe. A partir das memórias de Imp, a protagonista, sobre o quadro do Saltonstall, as sereias, e a relação das duas coisas com quem ela é hoje, eu pude pensar as minhas próprias histórias. As pequenas coisas que me aconteceram e que me fizeram ser quem sou.
E não apenas isso, mas quantos paralelos a autora faz no livro, que nos permitem traçar a partir disso os nossos próprios paralelos...
Não digo que esse seja um livro ruim, apesar de não ser um dos melhores que eu já li. O livro todo é uma viagem interessante pelos vários recortes de cenas e fatos sobre a vida de muitas pessoas que no final se costuram e formam uma grande colcha que faz todo sentido. 
Mas o que é o livro além disso? Além de um amontoado de referências de várias outras obras? 
Para provar meu argumento, no final do livro tem duas páginas inteiras onde a autora lista obras que citou. E ela cita tudo. Autores, compositores, cantores, pintores, e qualquer tipo de pessoa que possa de alguma forma ter-lhe influenciado a escrever essa história.
Esse é um dos pontos negativos do livro para mim. Não podemos culpar a autora por ter referências - todos temos -, mas, quando essas referências são despidas, o que sobra? 
Acredito que para ter uma experiência mais interessante com o livro, vale ler Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, que você encontra para baixar aqui, e que inclusive eu considero um livro (na verdade é um texto para teatro) muito melhor, por alguns motivos. 
Acho que a autora de A menina submersa monta um cenário que não condiz com o que será apresentado. Ela nos vende uma história que não irá contar (ainda mais se você tiver lido a sinopse). Acho que autora chega pretensiosa, e sai sem cumprir o que prometeu. Se tirarmos todas as referências, o que vai sobrar da história é uma garota louca, e nada mais. E aí vale questionar o que é ser louco. 
Em Senhora dos Afogados, temos o contrário. Nelson chega sem pretensão nenhuma, e da primeira vez que você lê o texto, ele nem parece ser assim tão bom. Mas cada vez que você relê você encontra uma nova metáfora escondida. 
A relação entre Moema e o mar. Entre Moema e o mito das sereias. Entre Moema e a prostituta morta... 
Acho que a autora de A menina submersa entrega demais o jogo, mesmo dizendo que não vai entregar, e protela demais, mesmo dizendo o tempo todo que não pode protelar, enquanto que o Nelson deixa para o leitor os mistérios do texto. 
Aquela história aconteceu de verdade, ou é tudo um sonho? Nelson não diz em nenhum momento que aquilo pode ser um sonho (enquanto que Caitlín diz isso o tempo todo), mas você mesmo começa a se indagar a respeito. Nelson não escreve lindos e confusos versos, mas suas palavras grossas dizem muito mais nas entrelinhas do que as palavras de Caitlín poderiam. 
Ao mesmo tempo, as duas histórias se complementam de um jeito incomum. Vejo muito mais terror em Senhora dos Afogados, onde Moema direta ou indiretamente mata toda a sua família do que em A Menina Submersa, onde nada acontece, de fato, fora da mente de Imp. 
Mas sim, apesar de tudo, eu recomendo o livro. E por favor, compre a edição limitada que tem a capa toda linda, porque vai dar uma outra cara pro livro. 
E sim, eu estou pedindo que vocês julguem o livro pela capa, porque muitas vezes é a capa quem demonstra o cuidado do autor com sua obra. 
Senhora dos Afogados pode ler muitas vezes, porque além de maravilhoso e muito importante é um livro cheio de significados e brasileiro!   
Por favor, leiam os dois livros e venham aqui comentar comigo o que acharam! 
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários: